Enquanto comíamos, um ar de observação reinava a mesa. Pensei o que fazia ali, pois não gostava de quase ninguém que ali se encontrava e resolvi, em meio a observações, quebrar todo aquele ritual de silêncio. Pensei que fosse incomodar, mas foda-se. Ninguém mandou me convidar.
- Imagina só, se o ser humano pudesse lê a mente das pessoas? - Perguntei, enquanto bebia suco - Tipo, tu chega em uma menina para cantá-la e se frusta pela resposta negativa, pois ela já sabia que você queria apenas comê-la, e não algo sério como os homens fingem ser. Seria louco. O mundo seria mais sincero, pois teríamos que falar a verdade. Não teríamos escolhas, frustrações, conversas fiadas, blá, blá, blá.
Todos me ignoraram, afinal não foi uma assunto normal.
Meu, isso está muito bom, Davi! O que é isso aqui? - Perguntei.
- Salada - Respondeu Davi, me olhando de um modo estranho, meio que incomodado.
Eu sabia que podia incomodar qualquer um que estava sentado naquela mesa, porém, eu só queria conversar e fazer com que aquela noite valesse à pena, realmente era uma noite comum - para eles - e eu não curtia muito aquilo. Não é bem do meu gosto sentar em uma mesa e falar sobre as mesmas coisas que, todo dia, dezenas de famílias fazem.
- Então, Janderson! - Disse Davi, apontando seu dedo indicador em minha direção - parece que você não é muito de namorar sério, eu nunca vi você realmente gostar de alguém.
- Sim, sim! - terminei de mastigar e engolir a salada - Eu não curto muito perder meu precioso tempo com uma garota que provavelmente vai querer me levar a lugares chatos e conhecer pessoas chatas. Realmente isso não é legal, eu prefiro ficar em casa e curtir minha própria vida sem me frustar ou frustrar a vida do outro. Eu já namorei, mas não acabou muito legal, normal.
- Mas você não se sente só? - Perguntou.
- Eu não! - coloquei mais suco, enquanto o restante das pessoas saiam da mesa. Ficando apenas nós dois - Eu não me importo em estar só, afinal nascemos sozinhos(com exceção aos gêmeos) e quando, no final da vida, morremos vamos para um caixão, uma cova, uma parte do cemitério, um alívio.
- Nossa, você é louco! - Disse Davi, observando as pessoas na sala assistindo TV - Como você consegue ser tão 'sem amor'? - Perguntou olhando diretamente no meus olhos.
- O ser humano é isso, um ser 'sem amor', um ser individual que finge se importar com as pessoas para que, enfim, a sociedade o veja como algo bom, como amor. Um falso amor. Esquecendo toda patifaria e maldade que já foi cometida. Desde que a palavra "eu" foi dita pela primeira vez o amor se foi, e quando a gente pensa em amar, o "eu" vem para o nosso caminho fazendo com que você ignore todo o resto do mundo e pense apenas naquela pessoa, enxergue apenas ela, que se foda o mundo. Você se encontra no "eu absoluto", por isso seus amigos te deixam ou dizem que você mudou o bastante. Realmente quando amamos mudamos nossa visão da realidade e do paralelo exposto pela vida e imaginação. Eu não quero isso!
Davi ficou com uma cara de tonto e sem entender.
-Realmente, você não diz nada com nada! - Disse Davi.
Na verdade eu costumo ver o mundo da minha forma. O mundo é uma bosta, porém, temos imaginação para enxergá-lo do nosso modo e, assim torná-lo alegre, atraente, paciente e tolerável. Podemos ter o nosso mundo só nosso, sem ninguém, e quando penso dessa forma as pessoas não entendem. Na verdade eu sempre fui de viajar em coisa sem sentido, deve ser isso.
- Ok! - respondi, me levantado e saindo para varanda.
-Aonde vai? - Perguntou Davi, ficando em pé.
-Na varanda, preciso respirar um pouco e, sinceramente, eu só vim para esse jantar por conta que não tinha nada para fazer, está um saco! - Respondi, colocando meus fones de ouvido.
- Me espera, eu só vou pegar uma cerveja para nós! - Disse Davi, correndo.
-Eu... - Não deu tempo para completar a frase e falar que eu não bebia. Ouvindo Criolo, desci as escadas meticuloso e vim para casa, sem avisar Davi, e lembrando do quão ruim essa noite foi. Entretanto, não há importância, e se houvesse, eu não me importaria. Eu realmente não quis incomodá-lo avisando que partiria para casa e, sem dúvidas, ele não me deixaria vim sozinho, afinal, eram quase meia noite. Porém, se o ser humano pudesse lê a mente das pessoas ele entenderia o por quê de minha escolha.
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