Capítulo VI - Mamãe e Cecília
Nas terças-feiras eu não tinha aulas, então combinei com Cecília de irmos jantar na casa de mamãe. Comprei novas roupas e um colar de presente à Cecília.
Era 14 horas quando liguei para Gabi.
- Gabi?
- O que você quer, Célio? - falou Gabi com a voz tremula.
- Quero levar Cecília hoje para jantar aí e conhecer a mamãe, posso?
- Célio, quero que venha aqui, para conversamos. Não traga essa moça aqui, é melhor.
- Qual o problema? É sobre a mamãe?
- É, também.
- Tô ouvindo a voz dela, passa pra ela.
- Célio...
A forma que falava meu nome com aquela voz irritante me deixava puto.
- Olha Gabi, vou jantar aí com a Cecília e ponto. E não faça a antipáca com ela, por favor - desliguei. Não tinha dito o horário, mas mamãe sempre jantava ás 20:00
Liguei para Cecília.
- Cecília? Onde você tá?
- Tô em casa, por quê?
- Posso ir aí?
- Não, melhor não. Vamos nos encontrar no pontal.
- Mas por que não posso ir em sua casa? Você mora com seu pai? Toda hora pede pra eu te deixar lá. Qual o problema de eu ir na sua casa ou de você morar com seu pai?
- Não quero e pronto. - Ela riu debochando.
- Ok, então... Que horas no pontal?
- Lá pelas cinco, cinco e meia...
- Ok, beijo.
- Beijo, escuta Célio, faz pouco tempo, mas...
- O que?
- Te amo. - ela desligou.
Aquilo foi como encontrar John Lennon após ter sido assassinado.
Foi a primeira vez que senti sinceridade num "te amo", sem ser por obrigação após eu dizer essas palavras. Ouvir aquilo me fez não mais me importar pelo qual o porquê dela não me deixar ir em sua casa.
Faziam 6 dias. Apenas 6 dias que enfim eu era realmente feliz, 6 dias que descobri o que era amor.
Após me arrumar, vi uma ligação perdida de Marina. Ignorei. Peguei minhas chaves e desci para garagem. Peguei meu carro e ganhei a rua.
Chegando no pontal - que é um shopping da cidade - vi encostada na parede, Cecília. Vou poupar elogios, pois todos já a conhecem, mas ela estava deslumbrante em um vestido negro, estava maquiada, nunca tinha a visto maquiada.
Parei o carro, ela entrou, nos beijamos e fomos rumo à Matriz (a cidade).
No meio da viagem, comecei a cantarolar a música do Eduardo Taddeo que tocava no som - Gosto de Rap. Aliás, acho que fazia Rap na faculdade, antes mesmo de saber o que era, já que vivia criando poesias. Por incrível que pareça, Cecília também gostava de Rap.
- Tira isso, Célio - disse ela encolhendo o nariz.
- Para, é Eduardo, pô, novo CD solo. - falei indignado com o pedido dela.
- Põe Haikaiss, você tem?
- Eu não escuto essas coisas. Não entendo nada que eles falam.
- É melhor que Eduardo que só repete a mesma coisa. - pressionou o botão que troca a música, trocou várias vezes até deixar no Ogi.
Ficou balançando a cabeça, curtindo o som, até que:
- ... trabalho mais que meu patrão e nem sou sócio! - cantou ela, da maneira mais favela que podia.
Olhei para ela e comecei a rir, a rir muito. Ela ficou envergonhada e começou a me dar uns tapas mordendo a língua. Eu ficava repetindo ela, com o sotaque espanhol que ela tinha "trabalho mais que meu patrõ e nem sou sóci". Ela ficava irada.
São nesses pequenos momentos que percebemos o que é ser feliz.
2
Chegando à casa de mamãe, entramos no quintal e bati na porta. Gabi abriu.
- Olha quem eu trouxe pra jantar aqui hoje! - Entrei de mão dada com Cecília.
- Oi! Você que é a Gabi, então? - disse Cecília a Gabi.
Ela não respondeu e foi direto pra cozinha.
- Não liga não, amor - me sentei ao lado de mamãe e Cecília ao meu lado direito - mãe, essa é minha namorada.
- Oi! - disse Cecília envergonhada.
- Oi, meu filho, que moça bonita! - mamãe sorriu como jamais sorrira.
Cecília se levantou, não entendi o porque e também me levantei. Ela foi para fora e a segui.
- O que foi, Cecília? Não liga pra minha irmã, ela é assim mesmo.
- Célio, preciso te falar uma coisa. - pegou em minha mão.
- Fala meu bem.
- Eu tô muito envolvida com você. Eu amo você, tenho medo de te decepcionar e eu vou te decepcionar.
Eu não acreditei que estava ouvindo aquilo, era sempre eu quem dizia essas coisas às mulheres.
- Não fala bobagem, você nunca vai me decepcionar. - tirei a caixa do colar de meu bolso e a entreguei - toma.
Ela abriu, sorriu. Seu sorriso ficava maravilhoso quando ela usava batom, ficava com uma boca enorme.
- Célio... Não precisava dessas coisas... É lindo... - ela pegou o colar e tomei de sua mão. Coloquei o colar em seu pescoço - Não foi como nos filmes, eu não conseguia abrir aquele negócio que encaixa pra fechar o colar, foi uma cena nada romântica.
O jantar aconteceu com muito silêncio. Gabi não falava nada, nem Cecília, nem mamãe. Apenas eu tentava iniciar uma conversa, mamãe e Gabi falavam um pouco, mas apenas Gabi ficava em total silêncio. Não foi um jantar como imaginei, mas foi bom ver mamãe se dar bem com Cecília.
Logo menos, novo capítulo.
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