Era quarta-feira, fazia exatamente uma semana que vi Cecília pela primeira vez, já perceberam como tudo é tão louco?
Numa quarta-feira vou ao trabalho com o desgosto e arrependimento de me tornar educador, na outra, agradeço mais do que tudo por ter me tornado, se não jamais teria conhecido Cecília.
Nessa quarta-feira ela não quis ir embora comigo, disse que tinha alguns compromissos com a faculdade (que eu nem sabia que fazia). Fiquei um pouco chateado com isso, porém, disse-me passar a quinta-feira comigo (que era feriado), então me alegrei. - É incrível como quando somos solitários, somos a maior de todas as rochas existentes e qualquer lápide de amor, nos libera o mais meigo dos homens que há em nós.
Acabei indo embora sozinho aquela noite, numa avenida do centro, vejo uma livraria 24h - decidi estacionar o carro e comprar algo novo (no meio literário).
No corredor de romances policias, avisto na outra ponta do corredor, Marina, estava muito bonita - Me virei para não ir de encontro à ela, já que ignoro suas ligações. Mas ela acabou me vendo.
- Psiu! - Fez ela. Sabia que era comigo, mas ignorei, como suas ligações.
- Psiu! - insistiu, e eu na mesma.
- Célio! - chamou.
Então tive de me virar.
- Oi, Marina! - fui até ela e a cumprimentei com um beijo.
- Oi, Célio! O que faz aqui?
"comprando bacon?" pensei. Apenas pensei.
- Tava indo pra casa, aí resolvi entrar aqui pra pegar alguma coisa. E você?
- Ah! Vim ver se meu livro ainda tava aqui, graças a Deus, não né? - sorriu pra mim.
- Sim, é bom que venda bastante. - Fiz uma cara de "sorria e acene".
Ela franziou as sobrancelhas e disse:
- Qual o problema, Célio? - Marina e suas "indiretas".
- O que? - Eu e minha "ingenuidade".
- Não atende quando ligo, ignora... Aliás, gostei de suas roupas novas.
- Marina... Eu dou aula em três turnos e além do mais, eu estou namorando.
Fui afobado demais. Acabei ofendendo ela.
- Célio, acho que você ainda não se ligou que posso te ajudar a voltar a escrever. Você é uma boa pessoa, penso em te ajudar. Só isso.
Ela deu as costas chateada, me senti mal. Fui até ela.
- Marina - Peguei em seu braço - Desculpa, ando em um mal dia.
- Hunf - Fez Marina - Então, você tá namorando?
- Sim, tem... Uns dias já.
- Quer ir no café ali na frente, pra conversamos? - perguntou ela.
- Sim, vamos! - Eu estava realmente mal com minha atitude.
Saindo (sem nenhum livro), me questionei de sua atitude inflexível e perguntei a ela:
- Porque me desculpou tão fácil?
- Não é difícil lidar com você. Basta tirar você do controle, igual qualquer homem.
Fiquei puto.
Fomos até o café, nos sentamos numa mesa perto da janela, pedimos um café e ela de cara disse:
- Então, me conta dessa namorada.
- Ah, tô com ela a um tempinho, ela é muito agradável.
- Estão juntos a quanto tempo? - perguntou ela levando a xícara à boca.
- Tem duas semanas.
Não quis dizer que fazia apenas uma. Ela jamais entenderia minha paixão.
- Ah, pouco tempo. Gosta dela?
- Sim, bastante.
- Tipo apaixonado? - Marina sorriu, seu sorriso era bem bonito.
- Tipo apaixonado - Sorri, contrastando com meu sorriso amarelo.
- Hum - fez ela - deixa eu te mostrar o que tenho aqui.
Pegou uma pasta em sua grande bolsa e me entregou.
Abri e logo que li os papéis velhos que lá continha, levei minhas mãos à cabeça envergonhado. Eram meus poemas.
- Não sei se tô indignado por você ter guardado ou estar carregando com você.
- Sim, já tava aqui nessa bolsa, é onde guardo escritos. O que eu mais gosto - puxou a pasta pra ela - É esse - me entregou o papel. Era um poema sobre um amor ilusório, não sei se ela escolheu pra cutucar minha relação com Cecília, mas era mesmo um bom poema.
- Ah! - Fiz - Me lembro que escrevi esse poema pra você entregar para a Soraia. Quer dizer então que você nunca entregou, é?
- Ah, ele é bom demais. Provavelmente a Soraia ia jogar fora, então fiquei com ele.
Sorri.
- Mas, Marina - fiquei folheando novamente os papéis - Não acredito que você guardou isso.
- E eu não acredito que você não quis viver disso.
Rimos juntos.
Conversamos durante horas. Até eu decidi ir embora. Não levei ela, para não correr o risco de ver Cecília no bairro de seu pai.
Em meu carro indo embora pensei no fim de noite que tive.
Conversa agradável e boas recordações. Era inevitável não pensar que nada disso aconteceria se eu não parasse naquela livraria, muito menos se eu fosse embora com Cecília.
Logo menos, um novo capítulo.
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