quarta-feira, 2 de março de 2016

O Final de Semana - Capítulo 4

Capítulo IV - O Final de Semana

Acordei no sábado ao meio dia. Tomei o café de quase 3 dias atrás e de roupão me joguei no sofá e liguei a TV. Passava um game show entre casais - porque diabos a televisão não evolui? Mudei de canal e passava "Edward Mãos de Tesoura", e notei como é incrível como desde os anos 90 até hoje o Johnny Depp faz o mesmo papel.
Pensei em ligar para Cecília, mas ia parecer muito desesperado. Decidi ir ver minha mãe. Fazia algumas semanas que não a via. Liguei para minha irmã para avisa-la.
Minha irmã caçula morava com minha mãe, tinha 27 anos e se encostava na aposentadoria de mamãe. É atriz, fez algumas figurações em novelas, mas nada além disso. Bom, conseguiu ir mais longe que eu, que sempre fui a esperança artística da família.
- Alô? Gabi?
- Célio?
- É. Escuta, vou ver a mamãe hoje.
- Célio...
- O que foi? Não posso ver a mamãe agora?
- Célio... não...
- Ela é minha mãe também, Gabriela!
- Tá bom.
Desliguei o telefone. Nunca entendi porque a Gabriela não me deixava ver a mamãe. Talvez fosse ciúmes.
Tomei um banho, coloquei a roupa que a mamãe gostava - camisa florida e calça jeans. Dizia ela que eu ficava parecido com o papai. Peguei o carro, ganhei a rua e fui rumo à Matriz, a cidade vizinha onde morava mamãe. Chegando lá, vi no portão, a Gabi, se aprontando pra sair.
Parei o carro na frente dela.
- A mamãe tá aí?
- Célio, tá tudo bem? - me perguntou abrindo o portão novamente, para entrar.
- Sim. Não ia sair?
- Não, não, acabei de chegar, entra.
Saí do carro e entrei no quintal.
- Você tá com uma cara boa, Célio, anda dormindo bem? - Disse-me abrindo a porta.
- Hoje é sábado, né - entrei e vi mamãe vendo a novela, sentada no sofá. Me sentei ao lado dela e lhe dei um beijo - Oi mamãe, como a senhora tá?
- Tô bem, filho - ela olhou minha roupa e disse:
- Com essa roupa você parece seu pai, sabia?
Ela sempre comentava isso quando eu chegava.
- É, a senhora me disse. Escuta, mamãe, arrumei uma namorada, eu acho... - disse entusiasmado.
- Isso é sério, Célio? - perguntou a Gabi da cozinha.
- Sim. Ela é professora lá da escola, na verdade é suplente. Acho que tô, sabe... É cedo pra dizer, nem estamos assim, namorando... - arquei as sobrancelhas - mas acho que tô apaixonado.
- Que bom, Célio - disse Gabi sorrindo, com seus dentes prateados por conta do aparelho - qual o nome dela?
- Cecília. Ela é muito linda, quando der, se realmente namorarmos, a trago aqui.
- Cecília? Ah...
- Mas só se a mamãe deixar! - Joguei uma olhadela para mamãe.
- Claro, filho. Tá na hora de casar, né? - disse mamãe alegremente.
- Célio, tenho que sair - disse Gabi - tá bom?
- Pode ir, fico com a mamãe.
- Deixa ela aí, vamos logo. Tô atrasada.
Me levantei com raiva e gritei:
- Mas você já não tinha saído? Porque quer que eu saia? Pra eu não perguntar pra mamãe se ela tá recebendo a pensão? - olhei pra mamãe - Desculpa mamãe, mas você abriga uma ladra!
- Fala baixo, Célio, os vizinhos. - Disse Gabi.
- Foda-se! É bom que eles saibam também. Olha, melhor eu ir mesmo - me abaixei e dei um beijo em minha mãe - Desculpa mamãe, mas com essa menina não dá. Outra hora eu venho, tá? Te amo.
Saí sem deixar minha mãe falar, fui direto pro carro e sumi. Tudo que eu queria era sair de perto daquela mina. Chorei no volante e meus óculos começaram a embaçar, no primeiro sinal os limpei e me recompus. Voltando a cidade parei para beber uma cerveja num bar que ia a alguns anos atrás. Sentado em frente ao balcão bebericando uma cerveja, uma mulher me aborda.
- Célio? - franziu as sobrancelhas.
- Sim, quem é? - compartilhei da mesma expressão.
- Marina, da faculdade, lembra?
Me lembrei dela - Uma vez após a aula, fumamos haxixe com outros colegas e a tentei beija-la. O namorado dela, que até então era meu melhor amigo tentou me bater. Nunca mais falei com eles depois daquilo.
- Claro - me levantei simpático. - Como você tá? Tá escrevendo ainda?
- Sim, sim. Tô tentando publicar meu quarto livro infantil e você? Escrevendo? - se sentou no banco ao lado.
- Tô lecionando. Desisti de escrever. - reparei que fiquei de pé como um retardado e também sentei.
- Você mudou bastante, cortou aquele cabelão, deixou cavanhaque. - pegou na minha barba - você casou com aquela moça do sindicato, né?
Meu telefone tocou. Era Cecília. Meu coração disparou.
- Oi?
- Alô, Célio? - disse a voz suave de Cecília, que comia o fim do meu nome e sempre saía "Céli".
- Oi Cecília, tudo bem? - fui andando pra porta do bar.
- Tudo. Então... amanhã quer ir na praia?
- Praia? Não é muito longe?
- Vamos de manhã e voltamos no fim do dia. Se não quiser, não precisa, só queria ir com você.
- Não, não. - Ia negar? - Vamos sim, mas onde você mora?
- Vai amanhã de manhã oitos da manhã na frente do hotel Michellis.
- Tudo bem.
- Então tá, beijo.
- Beijo. - desliguei. Porque ela não fala onde mora? Ela deve achar que sou psicopata. Mas enfim, não é sempre que vou ter uma mulher daquelas, então...
Voltei pro balcão e Marina ainda estava lá. Me sentei.
- Desculpa - disse a ela.
- Nada. Namorada?
Ao ouvir aquela pergunta, olhei para ela com um olhar mais técnico - Morena, cabelo liso longo, aparentemente em forma, então não deixei de ser homem.
- Não, não. Era só uma amiga.
- Ah, sim. Me fala, onde você dá aula?
- No Maria Salvadora.
Como ela sabia que se tratava de uma escola pública e precária, apenas levantou as sobrancelhas e deu um gole na dose que não a vi pedir.
Pus 20 reais no balcão.
- Vou embora. Quer uma carona ou vai ficar por aqui? - perguntei esperando não aceitar.
- Não, eu aceito sim.
Deu um último gole e se levantou. Não a vi pagar, deve ter pagado antes. Fui em direção a meu carro, ela me seguindo. Virei a chave na porta e ela abriu antes de mim, sentou e eu também.
- Quer que eu te deixe onde? - liguei o carro.
- Pode me deixar em casa, na Santa Cruz.
Logo pensei que Cecília podia estar por lá. Mas era um bairro grande, impossível ser na mesma rua que a do pai de Cecília.
- Tudo bem.
Ganhei a rua.
- Você continua sem falar muito, né?
- É. - falei seco ironizando.
- Bora queimar um haxixe, então - disse-me recordando da última vez que nos vimos.
- Porra, cê ainda lembra. - gargalhei.
- Claro. Eu terminei com o Roger depois daquilo. E você não falou com mais ninguém.
- Não me lembrava que vocês tinham terminado, se não, voltaria a falar com você - falei naturalmente pra não parecer que queria pega-la na época.
- Se eu não namorasse o Roger, eu não negaria aquele beijo.
Ri debochando.
- Você me deixa envergonhada assim, Célio. - disse ela com uma voz diferente.
- Assim como?
- Eu dando ideia em você e você quieto.
Ela estava bem direta. Mulher, solteira, beirando os 40 como eu, desesperada. Mas ela é bem atraente e inteligente. O que não é comum nas mulheres desesperadas e me faz duvidar do seu gênio.
- Me desculpa. É que faz tempo, né? Fico com vergonha. - Na verdade só não queria papo, mas não quis ser indelicado. Podia me dar o luxo para tanto, eu tinha Cecília e Cecília era maravilhosa.
- Em qual rua daqui do Santa Cruz?
- A Angelina - olhou pela janela - a gente já passou, pra voltar sem pegar contramão, só virando na última rua, aí no fim tem a rotatória e pega a Angelina do lado da Avenida.
Só ouvi última rua. Era o que me preocupava. Alguns talvez pensem "Mas qual o problema?" Já que não estou namorando de fato. O problema é o encontro de Domingo. Passar um dia antes do encontro com outra mulher, não seria nada elegante.
Passando pela última rua, fui a milhão, joguei uma olhadela para o prédio onde deixei Cecília da última vez, não vi nada e meu coração tranquilizou.
- Como eu faço aqui mesmo? - perguntei no sinal do fim da rua.
- Pega essa rotatória e se segue a Angelina - disse ela com um tom nada simpático.
Chegando, ela apontou onde era e parei o carro.
- Obrigada, Célio, célindo - Recordou de um trocadilho que usava com meu nome - sabia que tenho guardado comigo alguns poemas seu?
- É? Mentira! - encolhi os olhos.
- Sim, quer entrar pra ver?
- Não dá, tenho que dormir cedo.
Eu. Logo eu dando um fora. Como as coisas são malucas. A uma semana atrás, eu estava deprimido e sozinho, agora, duas mulheres maravilhosas aparentemente me querem.
- Tudo bem. Qual o número do seu celular?
Lhe passei o número, me despedi e segui rumo a minha casa. Já passava de uma da manhã e dali a pouco sairia de novo.
Acabei não dormindo corrigindo alguns trabalhos para pôr no diário e entrega-los à orientação. Queria o domingo livre.

2

Sete horas da manhã me arrumei para praia e fui buscar Cecília. Estava feliz. Na frente do hotel Michellis estava ela; Os cabelos encaracolados e negros destacava seu rosto fino e elegante. A regata branca contrastava com seu longo vestido florido e a bolsa de praia enorme. - me jogou um sorriso lindo que só ela sabia dar. Entrou no carro. Dei um beijo longo em seus lábios com os olhos fechados não via nada, mas sentia a mais pura felicidade. Abri os olhos e o que vi foi o sorrisão dela que me fez esquecer toda minha vida deprimente.
Na viagem eu senti o que jamais tinha sentido. Cantamos juntos, rimos, fizemos brincadeiras bobas. Era tão puro quanto verdadeiro. A paixão é o nobre dos sentimentos. Quando nos apaixonamos, a maldade do mundo já não mais nos atinge, é como dopar de LSD, é o nosso mundo particular, o que vem de fora já não mais nos pertence. Encontrar o Henrique na escola amanhã, já não mais me preocupava.
Ao chegarmos na praia, sentamos na areia e bebericamos algumas cervejas que tinha trazido comigo em uma caixa de isopor.
- Porque eu, Cecília? O que eu tenho de especial? - era a única coisa que me atormentava.
- Célio, a gente vive sem água? - perguntou olhando nos meus olhos.
- Não.
Apontou com a cabeça pro mar.
- Podemos beber dessa água.
- Não.
- Só dá doce, né? Mas água salgada é o que mais temos, já a doce não, então... Eu posso encontrar muita coisa que penso que é o que eu quero, mas não é do que preciso. Posso encontrar muita água salgada, pensando que é o que preciso, sabendo que só vivo com a doce. Entendeu?
- Pera aí - franziei as sobrancelhas - A gente tá falando de água ou de nós?
- Nossa, Célio... - Virou a cara com decepção.
A peguei em meus braços.
- Tô brincando, eu entendi - a estendi sobre minhas pernas e a beijei.
Ela levantou e tirou a regata e a saia - Nunca vira um corpo tão perfeito. A barriga lisa e branquinha, os seios sobre medida, as pernas maravilhosas e seu cabelo ao vento, não teria mais como aprecia-la como uma mulher e sim uma obra de Van Gogh.
Correu em direção ao mar.
- Vem Célio! - Gritou.
Tirei minha camisa mostrando os cabelos de meu peito e o shorts, mostrando minhas belas pernas brancas. Corri em direção à ela.
A água estava gelada, ela segurava em minha mão e gritava de frio, a cada onda que vinha. Fomos até onde ainda dava pé, ficamos abraçados um no outro e trocando olhares de felicidade. Seus beijos com sal me traziam sentimentos do qual eu desconhecia. Ela sorria e sorria, tão linda, tão única, tão perfeita e minha. Ela montou em mim, cruzando as pernas. Naquela situação não há quem segure. Ela sentiu. Olhou para baixo e depois para mim, com cara de "eu quero". Abaixei minha sunga, pus seu biquíni pro lado e foi ali, em meio as ondas, com o sol se despedindo, que pela primeira vez, fiz amor.




Capítulo V...logo mais!

Um comentário:

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