quinta-feira, 5 de março de 2015

Funeral Celeste: o ritual tibetano

Funeral celeste, ou ritual da dissecação, era uma prática sagrada e comum no Tibet. Nas altas altitudes de uma montanha, um grupo de pessoas se reunia, com musica e muita contemplação, enquanto um  cadáver, ou mais, era cortado em diversos pedaços, que logo seria usado para alimentar os urubus, ou os "Dakinis" como eram conhecidos, que significa "Dançarinos celestes". Considerado sagrado por oferecer-se o corpo para sustentar a vida de outro ser(urubu).


Um possível motivo para o surgimento do Funeral Celeste carrega um pouco de sentido. Nas altas altitudes do Tibet, não crescem árvores, então não há madeira para cremação, que é de costume para o tradicional enterro budista, e o solo é duro demais para ser escavado. Assim, acabou sendo a solução encontrada para a disposição dos restos mortais, evitando a disseminação de doenças.


A musica tocada é repleta de simbologias e os instrumentos usados possuem significados interessantes:
  • Tambor de Shiva: derivado do hinduísmos, é um tambor de dois lados, ele representa o ritmo do universo e a alternância de pólos, é chamado também de "Damaru". 
  • Kang Ling: é uma corneta de fêmur humano e sua representação é a superação da dualidade. O lado assoprado possui apenas um furo e representa a verdade absoluta e o outro lado, com dois furos, representa o dualismo.
  •  Sino de Metal: representa a interdependência dos fenômenos, pois o sino nunca pode ser tocado sozinho. Também representa a sabedoria ou esfera primordial da mente.


A pessoa que prepara os cadáveres para o ritual é conhecida como rogyapa, ou “breaker of bodies” (quebrador de corpos), ela corta de uma maneira adequada, desmembrando os corpos quase que, por completo. A explicação para isso é fazer com que o corpo seja consumido o mais rápido possível pelos urubus. 

A faca utilizada no serviço é conhecida como Kartika, usada para esfolar o cadáver. Hoje já não se usa tanto quanto antes, mas sua representação ainda é importante, pois representa o corte que se faz no ego.
   
(Kartika)    
Cá entre nós, mas eu queria ter uma dessa. 

Durante o Funeral Celeste, geralmente é feito a leitura do livro tibetano dos mortos, que também pode ser feito durante o velório. 


Também chamado de Bardo Thodöl, cujo significado é “Libertação pela audição no plano pós-morte”. É um livro com um texto muito antigo cuja mensagem era oculta ao público em geral, sendo apenas repassada de mestre a discípulo ao longo do tempo. Porém, por algum motivo desconhecido, seu conteúdo passou a ser divulgado e qualquer pessoa poderia ter acesso. Não se sabe ao certo há quantos séculos ele foi escrito, registros de sua origem também são desconhecidos.

A prática do Funeral Celeste havia sido proibida em 1960, mas em 1980 se tornou legal novamente. 

Para finalizar, deixarei um vídeo para vocês verem como funciona tudo. Já digo, se você não curte cenas horrendas, peço que nem click, mas a escolha é sua.

Vídeo:

     


4 comentários:

  1. Algumas práticas como esse são estranhas, mas vejamos.

    Aqui é normal enterrarmos ou cremarmos nossos cadáveres.

    Lá é normal esfolar enquanto se faz uma espécie de ritual.

    Crenças e mais crenças...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente!
      É tudo uma questão de ponto de vista.

      Excluir