sexta-feira, 1 de maio de 2015

E os inventários?

Uma vez, em uma barulhenta tarde de sábado, estávamos em minha casa, Fernanda e eu. A gente conversava sobre diversos assuntos – os piores possíveis – então, no clima de conversa vai e conversa vem, Fernanda resolveu falar do menos harmonioso possível, ou seja, o fato de eu não postar tudo, ou quase tudo, que escrevo.
– Janderson, por que você não posta todos esses poemas, contos e crônicas no Facebook? –Perguntou ela, revirando alguns de meus inventários.
– Eu não! –Respondi, sem muito interesse no assunto.
–Mas você escreve bem, se duvidar até melhor que muitos diplomados por aí. – Replicou, com um ar de motivação e altruísmo. 
– Ah! Ta. – me levantei e peguei meu celular – Você precisa saber muito o português para entender que o que faço não é nada. Existe pessoas muito melhores que eu... e, sim, essas sim merecem que sua literatura seja posta e apreciada, eu não curto muito postar meus textos, pois sei que sempre terá algum erro, seja ele insignificante ou bravo.
Fernanda me olhava de forma negativa. Não sabia bem o por quê!
–É sério, você escreve coisas legais e que merecem ser lidas e apreciadas da mesmo forma que 'essas pessoas muito melhores'. – Ela falou o final da frase com uma ironia irritante.
Eu me pus no meu lugar e guardei o celular no bolso, e fiquei pensando se realmente falava sobre o assunto, mas sei lá, conversar sobre isso não irá resolver nada. Talvez. Então depois de pensar por um instante resolvi falar o motivo real.
– Sabe Fernanda, eu não posto, pois sei que ninguém se importa. Ninguém vai lê. As pessoas não gostam de ler, elas acham repugnante e, pior, uma perca de tempo. Eu realmente não ligo que as pessoas não se importem, que se dane, é por isso que poupo-as da leitura de meus inventários. – respondi, sem empatia.
Pensei na biblioteca da escola, não sei por quê, mas acho que foi por conta que ela guarda um enorme tesouro da literatura de nossos grandes autores, porém poucos se importam na riqueza do conhecimento. Conhecimento não é moda. É por isso que o mundo anda tão triste e descontrolado, e não enxergamos o poder das palavras... Porra, elas podem controlar o mundo.
– Como você sabe que as pessoas não vão ler? – Insistiu ela.
Odeio pessoas que insistem muito, e quando isso acontece, uso o sarcarmos para evitar o estresse.
– Porque as pessoas estão mais preocupadas em saber quem quer ser sua capa, em comentar "peft" nas fotos que são horríveis, mendigar likes, nem sei como aquelas pessoas se sentem. É um grau de intelectualidade imenso que, pelas barbas de Odin, é uma literatura jamais vista, eu admiro a auto-estima dessas pessoas...– dei uma pausa e respirei um pouco – Porra quem é Machado de Assis perto dessas pessoas?
– Meu Deus! – disse ela, dando gargalhadas bem altas. – Alguém já disse que você é engraçado?
– Não!
– Serio?
– Sim.
– Mas você é.
– Humm.
– Nossa, você também é chato.
– Ah! Isso me falaram já – disse com minha áurea de ironia, lógico.
Eu sabia que a gente tava mudando o assunto, porém essa era a intenção, pois eu já estava cansado de ficar explicando o que eu não queria explicar. Sei lá. Eu acho que prefiro guardar minhas coisas no baú secreto – esse é um nome sem sentido que dou para minha caixa de sapato – Junto minhas mágoas, tristezas, ilusão, decepções, loucuras, camisinhas e um relógio de pulso que não uso mais – Parei de usar por conta que as pessoas me paravam na rua para perguntar as horas, era irritante – Guardo tudo e deixo lá. Sempre gostei do intrínseco, mas talvez, quem sabe, eu mude essa visão.
– Que saber, Janderson – disse ela – Eu vou embora que mais tarde minha mãe vêm me visitar, e você sabe que é difícil ela ir lá em casa.
– Sei que ela é gata. – Brinquei.
– Para chato! – disse Fernanda, sorrindo – Tchau, fica ai pensando se tu posta essas loucuras em páginas...
– Quer saber – Interrompi a fala dela – Eu vou postar essa nossa conversa, o que acha?
– Acho que você é louco, tchau – Fernanda me abraçou, beijou meu rosto e foi embora.
Fiquei pensando, pensando, pensando e pensando. Então depois de algum tempo pensando, pensando, pensando e pensando, eu liguei o Notebook, sentei na minha cadeira desconfortável e pus me a escrever.

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